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Se tem uma história que sempre me deixou intrigado, dentro das tragédias, escândalos, maledicências e lendas da História de Portugal, além das muitas epopeias, foi o caso do chamado Processo dos Távoras. Já abordei aqui neste blog que até atribui-se a construção do nosso Santuário do Caraça, em Minas Gerais, a um Távora que fugiu para o Brasil. Seria o lendário Irmão Lourenço, que teria chegado lá em Minas em 1770.
Ano passado, indo a Lisboa, fiz questão de conhecer o Marco do Chão Salgado. Está ali, escondido em um beco, nas proximidades dos Pastéis de Belém. Pedi à Camila, que me acompanhou nesta incursão, que o fotografasse para a posteridade.

Em 1758, reinava em Portugal D. José I, aquele cuja estátua equestre está bem no centro da Praça do Comércio, na Baixa Pombalina. Isto foi depois do terremoto de Lisboa, e o rei havia decidido morar em tendas montadas na Ajuda, com todo o conforto e mordomia. Pelo que dizem as más línguas, voltava El-Rei, incógnito e sem escolta, de uma visita amorosa a uma certa senhora casada, e foi vítima de um atentado, ao qual sobreviveu com alguns ferimentos e um grande susto. Este acontecimento foi logo classificado como uma tentativa de regicídio, numa época em que se afirmava um absolutismo tardio em Portugal.

Começam aí várias indagações. Teria mesmo sido um atentado a El-Rei, que viajava incógnito e sem escolta, tendo como companhia apenas o cocheiro? Quem seria esta senhora visitada pelo monarca, furtivamente? Consta que era uma Távora, e dizem os relatos da época que isto não constituia exatamente uma novidade. O futuro Marquês de Pombal assumiu as investigações e rapidamente encontrou os supostos autores do atentado, que confessaram, sob tortura, terem sido aliciados por um Távora, aliado ao Duque de Aveiro. Ora, acontece que o Duque de Aveiro em particular e a alta nobreza estavam contestando a centralização do poder nas mãos do rei, e a excessiva liberdade para decidir os assuntos do Reino por parte de Sebastião José de Carvalho e Melo. Hoje diríamos que o Duque de Aveiro era uma pedra no sapato do Marquês de Pombal. Um processo sumário, eu diria sumaríssimo, decretou a morte dos Távoras, inclusive mulheres e crianças, e do Duque de Aveiro, familiares e serviçais. O Palácio do Duque de Aveiro, localizado no sítio onde hoje se encontram os famosos Pastéis de Belém e arredores, era um edifício maior do que o Palácio Real. Foi totalmente arrasado.Vejam a pintura aí abaixo só para terem uma ideia.
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A Rainha e a filha, dona Maria (depois D. Maria I, que viria a ser sepultada no Convento da Ajuda no Rio de Janeiro), interferiram junto ao rei para que se poupassem as crianças. Na realidade uma boa parte dos condenados ficou na prisão. Apenas uma mulher foi decapitada. A Marquesa de Távora, mulher enérgica, que se opunha frontalmente à relação extraconjugal de El-Rei. Foi um morticínio em praça pública, assistido pessoalmente por D. José I. Uma coisa horrorosa. Como consequência o palácio dos Duques de Aveiro foi arrasado, e o chão salgado, para que nada mais ali se construísse ou plantasse. E, como alerta a futuros pretendentes ao trono ou contestação ao poder real, fez-se um marco, chamado do Chão Salgado, colocado exatamente onde antes habitaram os Duques de Aveiro, cujo título de nobreza foi extinto. Com o passar do tempo a Câmara de Lisboa foi autorizando, aos poucos, pequenas construções, que acabaram por ocupar todo o espaço, e reduzir o local do marco a um estreito beco, sem maiores atributos.
Esta é uma história tenebrosa dentro da História. Quando forem visitar a Torre de Belém, em Lisboa, lembrem-se de conhecer também o Marco do Chão Salgado.
(22 de maio de 2015)

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