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Este livro, publicado pela primeira vez em 2005, é um pequeno tributo às raízes de uma pessoa. De qualquer pessoa. Agora ele ganha uma nova edição brasileira pela Uiclap. Com algumas correções e atualizações, sem perder a originalidade do texto.

O livro reuniu 45 pequenas histórias, escritas em épocas diversas, que tomam como cenário uma vizinhança de Belo Horizonte nas décadas de 40 e 50, e outras cidades por onde andou o autor, mantendo, sempre que possível, o ponto de vista de um menino ou de um jovem no início da adolescência.

O livro pode ser encontrado, no Brasil,  na versão impressa na Loja Uiclap, e na versão eBook na Amazon.com.br . No exterior poderá ser encontrado na Amazon e Smashwords.

(3 de junho de 2023)

 

Foi a menina Diana, aquela mesma citada no livro A volta do Abominável, no trecho em que o personagem principal dá-lhe um conselho (para que trate de arrumar um emprego no TRE do Jardim Botânico, coisa que ela não fez), quem me deu de presente este livro admirável de José Saramago. Uma mistura de duas épocas, na verdade dois romances entrelaçados, em que se destaca a figura de Raimundo Silva, revisor de livros, e lá do século XII, D. Afonso Henriques, os bispos de Braga e Coimbra, e os mouros sitiados no Castelo (que viria a ser de São Jorge), na região de Santa Maria Maior, Lisboa.

Mas foram as personagens femininas, se me permitem, que conquistaram este leitor. A senhora doutora Maria Sara, como a ela se referia sempre a jovem telefonista Sara, e a pobre Ouroana, descrita como a barregã de um cruzado, e por quem o soldado Mogueime se apaixona. Tudo isso imaginado por Raimundo Silva, que se propõe, ele apenas um revisor, a reescrever a história do cerco de Lisboa. Olha que reescrever a história já era uma prática antiga, dos escribas do início da cristandade, e até antes disso, dos egípcios e aqueles da Babilônia.

E tem a diarista Maria, que me fez lembrar de uma outra personagem - Josefa Amélia - com olhares indagativos quando se depara com duas rosas brancas no apartamento de Raimundo Silva, e recebe telefonema de uma certa Maria Sara. A pergunta "Quer que troque os lençóis hoje?" deixa desconcertado nosso revisor, que teima em esconder seus sentimentos.

Há ainda um detalhe curioso, embora insignificante dentro do enredo, que é a rua onde morava o  revisor. Rua do Milagre de Santo Antônio, em Alfama. Maria Sara observa que embora o nome venha no singular, são vários os milagres representados nos painéis de azulejos existentes na rua. Maria Sara, que declara ter rompido um relacionamento há apenas três meses, e por isso está vivendo em casa de um irmão, acaba muito interessada na história que Raimundo está escrevendo e quer ver de perto onde ele trabalha. Mais não conto.

E o leitor perguntará, e os mouros? Já sabemos há muito tempo que foram expulsos da Península Ibérica, mas deixaram marcas que permanecem até hoje. Inclusive no aspecto físico de muitos descendentes.

(Livro História do cerco de Lisboa, José Saramago, 1989)

(29 de abril de 2023)

 

Nosso autor independente Washington Conceição acaba de lançar um novo livro. São dezoito histórias sobre diversas pessoas. As histórias são contadas naquele estilo coloquial muito característico dele, que torna a leitura saborosa (se podemos dizer assim), aquela que o leitor não quer interromper de jeito nenhum, que vara a madrugada, que deixa ao término de cada capítulo um sorriso nos lábios, que evoca outras situações nossas do passado. Washington nos fala de amigos e de famosos, com os quais teve contato ou admira. Entre estes últimos Dorival Caymmi e Cantinflas. Dentre os amigos, lá está Credidio Rosa, que tanta falta nos faz naqueles intermináveis cafés da manhã no Leblon.

Por falar no Leblon, há uma história muito interessante relatada pelo autor com relação ao escritor e cronista João Ubaldo Ribeiro, que morava nas imediações da rua Dias Ferreira. E, para ser justo com São Paulo, o livro fala também de um colega de turma do autor na Escola Politécnica da USP, conhecido entre os colegas apenas como Zuza, que se tornou governador do estado: Mário Covas. 

E o livro traz fotos surpreendentes para quem compara com os tempos mais recentes. Uma que me chamou muito a atenção foi da turma do segundo ciclo no Colégio Presidente Roosevelt, em São Paulo, uma escola pública, onde todos os alunos estão de terno e gravata, e o professor Cruz, de matemática,  parece um lorde inglês. Mas tão surpreendente quanto a foto é a memória privilegiada do autor. Que também se revela um profundo conhecedor de música, embora, modesto, tenha revelado não ser muito afinado ao cantar. Deve ter havido alguma reclamação dos vizinhos, no icônico edifício "Meia Lua", na rua Timóteo da Costa. Só pode ser isso.

O livro pode ser encontrado no formato eBook na Amazon e impresso na Loja Uiclap.

 

Esta expressão francesa, citada por Honoré de  Balzac em 1835, parece que foi cunhada na idade média, referindo-se a uma espécie de troca entre o senhor do castelo e os camponeses. Algo como vocês me servem, me abastecem, e eu os protejo. A expressão também reflete uma postura distinta da sociedade atual. Aqueles mais afortunados, ou que ocupam posições de destaque na vida cultural e política de um país devem olhar pelos menos favorecidos. Seria uma questão ética ou moral.

Na Inglaterra, os conservadores olham para a sociedade como sendo necessariamente estratificada. Sempre existirá uma elite, dizem eles, seja ela econômica, política ou cultural. Já os liberais acham que é possível promover uma sociedade mais igualitária, mesmo reconhecendo que sempre haverá alguma distinção entre os mais ou menos capazes. 

Existem inúmeros exemplos atuais, no mundo, de iniciativas da elite em benefício dos menos favorecidos. Warren Buffett, Bill e Melinda Gates, Zuckerberg, Azim Premji, Li Ka Shing, Knut Wallenberg. Criou-se até um neologismo para caracterizar um novo tipo de ação social: o filantropo-capitalista. Aqui no Brasil eu ressalto o trabalho de Túlio Vieira da Costa e Teresinha Prado Costa, que conheci bem de perto, com a Fundação 18 de Março. E temos também a Fundação Abrinq, e o Instituto Ayrton Senna, entre muitos outros. Exemplos não faltam. O que falta é uma consciência coletiva de que a parcela mais privilegiada da população brasileira, ou por herança, ou por cargos públicos, ou por empreendedorismo, ou por sucesso profissional, deve uma atenção a quem tem menos. No Brasil, como observou Roberto DaMatta, uma grande parte da elite esqueceu-se de que tem uma responsabilidade social. "Governar não é possuir e trapacear, mas administrar a chamada coisa pública com noblesse oblige"A apropriação privada de bens públicos e a corrupção escancarada endêmica jogaram por terra qualquer ideia de solidariedade. Criou-se, de uns tempos para cá, um verdadeiro salve-se quem puder. Daí decorre o corporativismo, que é, talvez, a maior característica do Brasil contemporâneo. É o exercício, sem pudores, da defesa dos privilégios. 

Esperemos que o novo ano traga um pouco mais de noblesse oblige para os brasileiros.

Carlos G. Vieira
(29 de dezembro de 2022)




"Triste Bahia, oh quão dessemelhante" (Caetano Veloso)

Aproveitei viagem que fiz recentemente, após as eleições brasileiras de 2022, e andei relendo o livro de Hélio Silva (1904-1995) que encerra o chamado Ciclo Vargas. Trata-se de 1954: um tiro no coração. É impressionante como as coisas não mudam no Brasil, há uma repetição cansativa de fatos e posições políticas. Eu queria apenas destacar alguns pontos do livro.

Primeiro, que Getúlio não tencionava ser candidato em 1950. Estava recluso em São Borja. Era cortejado por diversos políticos, que queriam apenas seu apoio, não a sua candidatura.

Segundo, em depoimento de Ernani do Amaral Peixoto, quando consultado o Presidente Dutra por que razão não apoiava abertamente o candidato do PSD, Cristiano Machado, ele teria respondido que o motivo era porque o irmão dele seria comunista. Este irmão vinha a ser Aníbal Machado, pai de Maria Clara Machado e filho de Marieta Monteiro Machado, nome de rua em Sabará (no nosso livro Sabará 18, obra de ficção, aparecem duas personagens chamadas irmãs Machado).

Terceiro, a eleição do Clube Militar em 1950, quando houve um embate entre uma corrente dita nacionalista e outra entreguista. Venceu a primeira corrente, com o general Estillac Leal. O outro concorrente foi o então general Cordeiro de Farias.


Quarto, vencida a eleição por Getúlio, iniciou-se um movimento para impedi-lo de tomar posse. Argumentava o lado perdedor de que ele não teria vencido por maioria absoluta, algo inexistente na Constituição, à época.

Quinto, queria destacar alguns trechos da primeira manifestação pública de Getúlio, depois de ter vencido as eleições.

"Deus é testemunha de minhas relutâncias íntimas em participar de uma campanha que pudesse agravar os vossos sofrimentos e fomentar discórdias e animosidades entre os brasileiros."

"O governo não é uma entidade abstrata, um instrumento de coerção ou uma força extrínseca da comunidade nacional. Não é um agente de partidos, grupos, classes ou interesses. É a própria imagem refletida da pátria na soma de suas aspirações e no conjunto das suas afinidades e lealdades."

(Carlos G. Vieira)

(Livro "1954: um tiro no coração", Hélio Silva, edição L&PM Pocket, 2007)

(25/11/2022)



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