Blogger Template by Blogcrowds.

 

 A escritora portuguesa Gisela Silva tem escrito excelentes livros sobre Eça de Queiroz. Eu não sou propriamente um queiroziano, longe de mim ter esta pretensão, mas considero Eça um dos meus escritores, digamos, de cabeceira. O livro Ora Eça, senhor Queiroz! começa contando o nascimento conturbado de Eça, que acabou sendo criado pelos avós. Quando foi se casar com Emilia de Castro, a mãe da noiva exigiu que ele tivesse o sobrenome da mãe dele, afinal a família da noiva não poderia aceitar alguém cuja mãe fosse ignorada. Coisas de Portugal daquela época. Gisela Silva tem se dedicado a um público mais jovem, mas nem por isso os mais velhos, como é meu caso, devam se sentir rejeitados. Ela tem razão. O público jovem tem que ser conquistado para as obras primas da literatura. Não podem ficar só à mercê de jogos eletrônicos e redes sociais.

Eça certa vez, em correspondência, disse que ele era apenas um pobre homem da Póvoa de Varzim. Eu também costumo dizer o mesmo, aqui no Rio de Janeiro, em mensagens para amigos. É uma forma de me desculpar por avaliações apressadas, ou preconceitos que afloram sem querer. Aqui neste blog já postamos sobre Emília de Castro,  A Tragédia da Rua das Flores, Queijadas de Sintra, Era Lisboa e chovia, Rua das Janelas Verdes, Histórias da Vila do Seixo e Alves & Cia.

Infelizmente para nós, os livros de Gisela Silva ainda não tiveram uma edição brasileira ou versões em eBook, o que facilitaria e simplificaria a nossa leitura. Mas, quem sabe, ainda podem ter.

Carlos G. Vieira

(14 de julho de 2024)

Passo por elas, quase todos os dias, nas minhas caminhadas pelas ruas do bairro. Praticando o mindfulness, para acalmar a mente. E me ponho a observá-las, enormes, portentosas, algumas ultrapassando a cota dos edifícios. Com múltiplos galhos, parecendo novos troncos já envelhecidos, avançando sem pudores pelas janelas e sacadas. Aqui em casa me alertam para ter cuidado com os frutos, que teimam em cair sobre as cabeças dos transeuntes, e costumam fazer estragos.

Leio que os moradores do Leblon reclamam, dizem que não entendem por que plantaram árvores tão grandes, umas se juntando às outras, copas enormes que tiram o sol dos apartamentos. Drummond, com sua perspicácia de poeta, e mineiro, exaltou as amendoeiras (de Copacabana, suponho), com a famosa crônica Fala, amendoeira. Da minha parte, contento-me em admirá-las. Muitas delas com lindas orquídias atreladas ao tronco, que os porteiros tratam de manter vivas eternamente. E se, por acaso, fenecem, são trocadas por outras. Acho que o bairro assim fica mais humanizado, as ruas menos agressivas e as buzinas menos irritantes. Não acho que os urbanistas tenham escolhido mal. Façam uma caminhada, ao acaso, pela Rua Almirante Guilhem e vejam a beleza destas árvores. Vão concordar comigo.

Carlos G. Vieira  

(22 de junho de 2024)

 

Nosso autor independente Washington Luiz Bastos Conceição não para de inovar. Após ter lançado este livro em Português do Brasil, publicou duas versões bilíngues: inglês e espanhol. Transcrevo abaixo a explicação em espanhol.

"Cuando el Covid-19 golpeó a la humanidad, Leilah y Washington, octogenarios, tuvieron que refugiarse en el aislamiento social. En esta condición inédita, vivida en todo el mundo, la pareja brasileña, residente en Río de Janeiro, sobrevivió a la fase más grave de la pandemia. El libro registra el día a día de los dos en el periodo comprendido entre marzo de 2020 y marzo de 2022, las dificultades, su forma de afrontarlas, sus actividades y su control personal para no dejarse desanimar. En los momentos más difíciles, analizaron esa situación extraña, incluso escandalosa, que estaban viviendo, sintiéndose infelices por verse privados de ver a sus hijos y nietos, de estar con amigos, de caminar libremente por la “Ciudad Maravillosa”. Se preguntaban: “¿Cuánto tiempo más nos mantendrá atrapados el Covid-19?”.

Disponível na versão impressa na Uiclap
e na versão ebook na Amazon.

(5 de abril de 2024)


Este é o terceiro episódio, para usar um termo atual do streaming, de um folhetim escrito em quatro partes, tendo como cenário o antigo bairro do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. Para ler as partes anteriores, publicadas aqui neste blog, clique em  Rio Comprido, 1939 e Rio Comprido, 1940


EU ESTOU EVITANDO ENCONTRAR AQUELAS meninas da Costa Ferraz. A situação da guerra na Europa piorou muito. A Alemanha, segundo dizem, está arrasando Londres com bombardeios, e agora se voltou para a Rússia, com a qual tinha um tratado de não-agressão. Hoje comentou-se lá em casa o cerco de Stalingrado. A Mãe Rússia, disse meu pai, vai se render daqui a pouco. Neste caso só restaria à Inglaterra pedir trégua e fazer um acordo, como sempre quis o Führer.

Alguns amigos de meus pais decidiram voltar para a Alemanha e ajudar no esforço de guerra. Minha mãe até pensou nisso, mas meu pai é mais cuidadoso e disse que devemos esperar a paz na Europa primeiro, que segundo ele deve ser coisa para este ano. Os americanos continuam numa pseudo-neutralidade. O que vou dizer se aquelas meninas me encostarem na parede? O governo brasileiro, diz o jornal O Globo, está sendo pressionado para não vender matéria-prima para a Alemanha, principalmente depois que o cargueiro Taubaté foi afundado no Mediterrâneo. Em compensação, na casa do Alexandrino estão todos virtualmente apavorados. A Itália não tem se saído muito bem nesta guerra. Dizem que Mussolini só queria entrar em guerra no ano que vem, quando imagina que a Itália estaria preparada. Mas Hitler pressionou e Mussolini ordenou a invasão da Grécia. Pronto, era o que faltava. Os gregos rechaçaram o ataque e agora os alemães estão ajudando os italianos a conquistar a Grécia. Mais atraso na invasão da Rússia. Muitos italianos mortos e feitos prisioneiros. Alexandrino torce para a Itália e eu torço para a Alemanha. E aqui nós todos, inclusive na casa da Costa Ferraz, torcemos para o América, e tudo bem.

Continue lendo

 

O nosso Grupo Escolar, hoje todo restaurado e transformado em Escola Estadual, completará em 2024 cento e dez anos que ali está, imponente, ocupando todo um quarteirão entre a Avenida Getúlio Vargas e ruas Rio Grande do Norte e Tomé de Souza. Ele foi a primeira escola deste tipo em Belo Horizonte, criado em 1906 e tendo funcionado anteriormente na Avenida João Pinheiro.

Já disse isso no livro Armazém Colombo (em nossa Livraria Virtual), antes de mim ali estudaram meus irmãos mais velhos, e depois, meu irmão Sérgio, primos e sobrinhos. Por ali também passaram mineiros ilustres como Israel Pinheiro, Otacílio Negrão de Lima, Américo René Gianetti e a estilista Zuzu Angel. Ali também estudou Caio Vianna Martins, uma lenda do escotismo, que morreu aos 15 anos de idade, em virtude de ferimentos no famoso desastre ferroviário na Serra da Mantiqueira em 1938. Era mineiro, mas deu nome ao estádio em Niterói. Meu irmão José Flávio também estava no grupo de escoteiros, e felizmente nada sofreu. 

Mas, é preciso dizer, a minha turminha não ficava atrás de jeito nenhum. Tínhamos o filho do Secretário de Educação Odilon Behrens, o filho de Mário e Lúcia Casasanta, a filha do Cônsul da Síria Antônio Cadar, o sobrinho do Cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, o filho do Dr. Jurandir Bandeira, e eu. Entre muitos outros.

Lembro-me muito bem da minha primeira professora, dona Udila Alves, e de dona Vera Brandão, a última, que encerrou sua carreira com a nossa turma. Lembro-me perfeitamente de nossa diretora, dona Ondina do Amaral Brandão, quase nossa vizinha ali na Rua Maranhão. E me lembro também de dona Natália Lessa, nossa professora de educação física e uma pioneira no ensino de dança para meninas em Belo Horizonte. E eu, precocemente, tentei engabelá-la para ser dispensado da aula de ginástica, mostrando um tosco bilhete que eu mesmo havia escrito, imitando a letra da minha mãe. Ela me olhou desconfiada, eu com a cara mais inocente de meus oito ou nove anos, e deixou passar. Já nem me lembro o porquê desta fraude precoce.

Uma vez, para meu espanto, meu irmão mais velho me contou que, certo dia, foi obrigado a ir buscar o filho, lá naquele portão que ficava entre Rio Grande do Norte e Tomé de Souza, porque um coleguinha havia dito que "iria pegar ele na saída". Era comum que as desavenças e pequenos desentendimentos fossem resolvidos no tapa, na saída das aulas. Nada muito diferente de hoje em dia.

O meu grupo de colegas preferia sair correndo e passar na Sorveteria Domingos, ali na esquina da Rua Santa Rita Durão com Avenida Getúlio Vargas. Ou pegar uma carona no bonde até a Praça 12, como era conhecida naquele tempo. Bons tempos.

Carlos Gentil Vieira

(18 de janeiro de 2024 - agradecendo a Lili e Bibi, cuja foto ilustra esta postagem)

E que tal receber as atualizações do nosso blog por email? Para assinar clique aqui.



Postagens mais antigas