Se até o mês de dezembro as jacas dominaram o meu caminho, agora chegou a vez das mangueiras. Enormes, com pencas de mangas ficando amarelinhas bem lá no alto e muitas já caídas pelo chão na Rua Sambaíba, aqui no Leblon.
Isto me fez lembrar das mangueiras da minha infância, aquelas em frente ao Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte, e aquelas do quintal da casa do meu avô em plena Avenida Afonso Pena. Eu também plantei uma mangueira no quintal lá da minha casa (sim, naquele tempo as casas tinham quintal com muitas frutas), manga carlotinha, e quando voltava à casa materna minha mãe sempre me mostrava a mangueira repleta de mangas.
Meu amigo Antônio Luiz, já falecido, também plantou uma mangueira aqui na Timóteo da Costa, em frente ao prédio em que morou por muitos anos, e ela também é pródiga em frutos, que despencam lá de cima na calçada. Passo quase todos os dias por ela e me lembro dele.
Embora alguns urbanistas possam ser contra, eu acho que esta ideia de ter frutas caindo lá do céu, nas caminhadas, humanizam os bairros e nos fazem lembrar como eram, antigamente, nossas cidades.
Carlos G. Vieira
(6 de janeiro de 2025, Dia de Reis e outras efemérides na cidade mineira de Sabará)
Marcadores: Crônica
Assim como uma família compra um pet. Que tal? Numa época em que as pessoas só se preocupam com números. Qual foi a inflação acumulada no ano, quanto subiu/abaixou a Bolsa hoje, quanto temos no banco, quanto vai distribuir a mega sena, quais as ofertas do supermercado, quais as ofertas de passagens aéreas, qual vai ser o aumento do salário.
De fato, o escritor português Afonso Cruz colocou o dedo na ferida. Numa época fictícia em que as pessoas são identificadas por números e não por nomes. E algumas, nota bem a personagem mais jovem da família desta história, são pernósticas. São conhecidas por letras e números complexos, com uma parte decimal. Tipo BB9,2.
E, de repente, bate uma vontade de comprar um poeta e levar para casa. Arranjam um lugar para ele debaixo da escada (na minha casa era onde meu pai guardava as garrafas). E o poeta fica poetando. Até uma janela com vista para o mar ele consegue criar.
Mas o poeta acaba por se tornar inconveniente com sua visão poética, e é abandonado em um parque, como algumas pessoas fazem hoje com aquele cãozinho tão querido. Conclusão do autor: "nunca se abandona a poesia nem num parque, nem na vida".
Eu pensei muito se valeria a pena comentar este livro, tamanho o número de resenhas e comentários sobre ele que encontrei, muito mais bem escritos do que eu conseguiria fazer. Perdoem-me, mas foi irresistível.
(Livro: Vamos comprar um poeta, Afonso Cruz, Editora Dublinense Ltda, Porto Alegre)
Carlos. G. Vieira
(12 de novembro de 2024, em homenagem a Dona Mary)
Marcadores: Dicas
As jacas são frutas típicas da India, Bangladesh e Vietnã. Acho que também já fazem parte da nossa Floresta da Tijuca, e se multiplicam na medida em que as sementes estão espalhadas pelo chão, e os animais tratam de levá-las para bem longe. Mas há um mistério nesta história. Quando chega fins de dezembro ou janeiro, não resta mais nenhuma destas frutas para se ver. Somem todas. O que me levou, anos atrás, a encomendar uma delas no edifício Meia Lua, do meu amigo Washington. Lá existem várias jaqueiras. Fui apanhar de carro e com muito sacrifício coloquei a dita cuja na nossa cozinha. Imediatamente acionei todas as mãos disponíveis e começamos a preparar um delicioso doce de jaca. E tem gente que diz que não gosta.
Carlos G. Vieira
(24 de outubro de 2024)
Marcadores: Crônica
O autor independente Washington Luiz Bastos Conceição acaba de divulgar um catálogo de todos os seus livros, com indicação de onde encontrá-los. Livros impressos e eBook.
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O leitor também tem acesso a alguns de seus livros em nossa Livraria Virtual.
A escritora portuguesa Gisela Silva tem escrito excelentes livros sobre Eça de Queiroz. Eu não sou propriamente um queiroziano, longe de mim ter esta pretensão, mas considero Eça um dos meus escritores, digamos, de cabeceira. O livro Ora Eça, senhor Queiroz! começa contando o nascimento conturbado de Eça, que acabou sendo criado pelos avós. Quando foi se casar com Emilia de Castro, a mãe da noiva exigiu que ele tivesse o sobrenome da mãe dele, afinal a família da noiva não poderia aceitar alguém cuja mãe fosse ignorada. Coisas de Portugal daquela época. Gisela Silva tem se dedicado a um público mais jovem, mas nem por isso os mais velhos, como é meu caso, devam se sentir rejeitados. Ela tem razão. O público jovem tem que ser conquistado para as obras primas da literatura. Não pode ficar só à mercê de jogos eletrônicos e redes sociais.
Eça, certa vez em correspondência, disse que ele era apenas um pobre homem da Póvoa de Varzim. Eu também costumo dizer o mesmo, aqui no Rio de Janeiro, em mensagens para amigos. É uma forma de me desculpar por avaliações apressadas, ou preconceitos que afloram sem querer. Aqui neste blog já postamos sobre Emília de Castro, A Tragédia da Rua das Flores, Queijadas de Sintra, Era Lisboa e chovia, Rua das Janelas Verdes, Histórias da Vila do Seixo e Alves & Cia.
Infelizmente para nós, os livros de Gisela Silva ainda não tiveram uma edição brasileira ou versões em eBook, o que facilitaria e simplificaria a nossa leitura. Mas, quem sabe, ainda podem ter.
Carlos G. Vieira
(14 de julho de 2024)
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Marcadores: Personalidades do livro