Blogger Template by Blogcrowds.


    Amaury Temporal, falecido em 2015 em Paris, fez uma coisa que muita gente gostaria de fazer. Um tipo peculiar de turismo. Durante vários anos alugou uma casa no interior da França (cada ano em um povoado diferente) por cerca de 30 dias e dedicou-se a vivenciar intensamente cada um destes lugares. Sua comida, seus habitantes, suas casas, os arredores. Depois, colocou tudo em livro. O período de viagem coincidia sempre com o fim de ano, o que lhe permitiu participar de comemorações familiares de pessoas que nunca tinha visto antes. Uma experiência incrível, dele e de sua esposa Maggy (que também escreve alguns capítulos, e se refere ao marido como Tempo).

Este livro Como um rei na França, editado em 2011 pela Editora Record, relata suas experiências em regiões tão diversas como a Alsácia, Normandia, Borgonha, Vale do Loire e outras. Ele explica que tudo começava por volta de julho, com pesquisas para escolher um determinado lugar, que fosse no interior da França, fosse uma casa equipada, numa localidade pequena. Escolhido o alvo daquele ano, passava aos anúncios de casas para alugar, descartando a maioria até chegar naquela que lhes parecia mais adequada.

Então, começava a viagem por Paris, hospedando-se sempre no mesmo hotel, alugava um carro pelo sistema de leasing e começava um mês de intensas aventuras em um local totalmente desconhecido. E, pelo que relata, sempre se propunha, ao ser convidado para jantar em algum de seus vizinhos, levar um cassoulet no estilo autêntico de Castelnaudary, imagino que para total surpresa dos convivas.

O livro é uma delícia de se ler, com fotos de cada um dos lugares e das casas que alugaram. Quando cheguei ao final de seu relato da casa na Normandia, tratei logo de comprar um Calvados Pays d'Auge.

Carlos G. Vieira

(26 de outubro de 2023, em homenagem a um menino muito querido nascido nesta data)

 

Este livro, publicado pela primeira vez em 2005, é um pequeno tributo às raízes de uma pessoa. De qualquer pessoa. Agora ele ganha uma nova edição brasileira pela Uiclap. Com algumas correções e atualizações, sem perder a originalidade do texto.

O livro reuniu 45 pequenas histórias, escritas em épocas diversas, que tomam como cenário uma vizinhança de Belo Horizonte nas décadas de 40 e 50, e outras cidades por onde andou o autor, mantendo, sempre que possível, o ponto de vista de um menino ou de um jovem no início da adolescência.

O livro pode ser encontrado, no Brasil,  na versão impressa na Loja Uiclap, e na versão eBook na Amazon.com.br . No exterior poderá ser encontrado na Amazon e Smashwords.

(3 de junho de 2023)

 

Foi a menina Diana, aquela mesma citada no livro A volta do Abominável, no trecho em que o personagem principal dá-lhe um conselho (para que trate de arrumar um emprego no TRE do Jardim Botânico, coisa que ela não fez), quem me deu de presente este livro admirável de José Saramago. Uma mistura de duas épocas, na verdade dois romances entrelaçados, em que se destaca a figura de Raimundo Silva, revisor de livros, e lá do século XII, D. Afonso Henriques, os bispos de Braga e Coimbra, e os mouros sitiados no Castelo (que viria a ser de São Jorge), na região de Santa Maria Maior, Lisboa.

Mas foram as personagens femininas, se me permitem, que conquistaram este leitor. A senhora doutora Maria Sara, como a ela se referia sempre a jovem telefonista Sara, e a pobre Ouroana, descrita como a barregã de um cruzado, e por quem o soldado Mogueime se apaixona. Tudo isso imaginado por Raimundo Silva, que se propõe, ele apenas um revisor, a reescrever a história do cerco de Lisboa. Olha que reescrever a história já era uma prática antiga, dos escribas do início da cristandade, e até antes disso, dos egípcios e aqueles da Babilônia.

E tem a diarista Maria, que me fez lembrar de uma outra personagem - Josefa Amélia - com olhares indagativos quando se depara com duas rosas brancas no apartamento de Raimundo Silva, e recebe telefonema de uma certa Maria Sara. A pergunta "Quer que troque os lençóis hoje?" deixa desconcertado nosso revisor, que teima em esconder seus sentimentos.

Há ainda um detalhe curioso, embora insignificante dentro do enredo, que é a rua onde morava o  revisor. Rua do Milagre de Santo Antônio, em Alfama. Maria Sara observa que embora o nome venha no singular, são vários os milagres representados nos painéis de azulejos existentes na rua. Maria Sara, que declara ter rompido um relacionamento há apenas três meses, e por isso está vivendo em casa de um irmão, acaba muito interessada na história que Raimundo está escrevendo e quer ver de perto onde ele trabalha. Mais não conto.

E o leitor perguntará, e os mouros? Já sabemos há muito tempo que foram expulsos da Península Ibérica, mas deixaram marcas que permanecem até hoje. Inclusive no aspecto físico de muitos descendentes.

(Livro História do cerco de Lisboa, José Saramago, 1989)

(29 de abril de 2023)

 

Nosso autor independente Washington Conceição acaba de lançar um novo livro. São dezoito histórias sobre diversas pessoas. As histórias são contadas naquele estilo coloquial muito característico dele, que torna a leitura saborosa (se podemos dizer assim), aquela que o leitor não quer interromper de jeito nenhum, que vara a madrugada, que deixa ao término de cada capítulo um sorriso nos lábios, que evoca outras situações nossas do passado. Washington nos fala de amigos e de famosos, com os quais teve contato ou admira. Entre estes últimos Dorival Caymmi e Cantinflas. Dentre os amigos, lá está Credidio Rosa, que tanta falta nos faz naqueles intermináveis cafés da manhã no Leblon.

Por falar no Leblon, há uma história muito interessante relatada pelo autor com relação ao escritor e cronista João Ubaldo Ribeiro, que morava nas imediações da rua Dias Ferreira. E, para ser justo com São Paulo, o livro fala também de um colega de turma do autor na Escola Politécnica da USP, conhecido entre os colegas apenas como Zuza, que se tornou governador do estado: Mário Covas. 

E o livro traz fotos surpreendentes para quem compara com os tempos mais recentes. Uma que me chamou muito a atenção foi da turma do segundo ciclo no Colégio Presidente Roosevelt, em São Paulo, uma escola pública, onde todos os alunos estão de terno e gravata, e o professor Cruz, de matemática,  parece um lorde inglês. Mas tão surpreendente quanto a foto é a memória privilegiada do autor. Que também se revela um profundo conhecedor de música, embora, modesto, tenha revelado não ser muito afinado ao cantar. Deve ter havido alguma reclamação dos vizinhos, no icônico edifício "Meia Lua", na rua Timóteo da Costa. Só pode ser isso.

O livro pode ser encontrado no formato eBook na Amazon e impresso na Loja Uiclap.

 

Esta expressão francesa, citada por Honoré de  Balzac em 1835, parece que foi cunhada na idade média, referindo-se a uma espécie de troca entre o senhor do castelo e os camponeses. Algo como vocês me servem, me abastecem, e eu os protejo. A expressão também reflete uma postura distinta da sociedade atual. Aqueles mais afortunados, ou que ocupam posições de destaque na vida cultural e política de um país devem olhar pelos menos favorecidos. Seria uma questão ética ou moral.

Na Inglaterra, os conservadores olham para a sociedade como sendo necessariamente estratificada. Sempre existirá uma elite, dizem eles, seja ela econômica, política ou cultural. Já os liberais acham que é possível promover uma sociedade mais igualitária, mesmo reconhecendo que sempre haverá alguma distinção entre os mais ou menos capazes. 

Existem inúmeros exemplos atuais, no mundo, de iniciativas da elite em benefício dos menos favorecidos. Warren Buffett, Bill e Melinda Gates, Zuckerberg, Azim Premji, Li Ka Shing, Knut Wallenberg. Criou-se até um neologismo para caracterizar um novo tipo de ação social: o filantropo-capitalista. Aqui no Brasil eu ressalto o trabalho de Túlio Vieira da Costa e Teresinha Prado Costa, que conheci bem de perto, com a Fundação 18 de Março. E temos também a Fundação Abrinq, e o Instituto Ayrton Senna, entre muitos outros. Exemplos não faltam. O que falta é uma consciência coletiva de que a parcela mais privilegiada da população brasileira, ou por herança, ou por cargos públicos, ou por empreendedorismo, ou por sucesso profissional, deve uma atenção a quem tem menos. No Brasil, como observou Roberto DaMatta, uma grande parte da elite esqueceu-se de que tem uma responsabilidade social. "Governar não é possuir e trapacear, mas administrar a chamada coisa pública com noblesse oblige"A apropriação privada de bens públicos e a corrupção escancarada endêmica jogaram por terra qualquer ideia de solidariedade. Criou-se, de uns tempos para cá, um verdadeiro salve-se quem puder. Daí decorre o corporativismo, que é, talvez, a maior característica do Brasil contemporâneo. É o exercício, sem pudores, da defesa dos privilégios. 

Esperemos que o novo ano traga um pouco mais de noblesse oblige para os brasileiros.

Carlos G. Vieira
(29 de dezembro de 2022)


Postagens mais antigas