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Passei quase dez anos da minha vida assistindo, com tristeza, ao desmonte progressivo de uma vila-quadra, na rua Lopes Quintas, depois de o corretor que me vendeu um apartamento ter me assegurado que aquilo jamais aconteceria. E, ao longo desta vida, conheci muitas vilas aqui no Rio, uma característica interessante da urbanização da cidade a partir do século XIX, e que resiste bravamente à verticalização. Por exemplo, cito a rua Leblon, que na realidade é uma vila privilegiada entre Delfim Moreira e General San Martin, e a vila onde morou meu amigo Gilberto, na rua Barão de Mesquita. E outras no Jardim Botânico, Botafogo, Copacabana, Tijuca, Catete, e no Lins de Vasconcelos (casa de Heckel). Hoje em dia passo regularmente por uma pequena vila, primorosamente mantida, na Gávea.

A vila residencial é o nome que se dá aqui a um conjunto delimitado de casas independentes, com um único endereço e quase sempre um único acesso, cujos moradores compartilham uma mesma área comum e repartem os custos de manutenção, em geral mais baixos que os de um condomínio tradicional.

O livro do arquiteto Alfredo Luz, lançado em dezembro, é quase um roteiro lírico e sentimental da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, tal como se referiu uma vez Vinicius de Moraes. Com a vantagem que o livro organiza nossa visão meio desordenada das vilas, algumas que só conseguimos ver através das grades de entrada, como diz o autor. Ficamos sabendo agora que, do ponto de vista do urbanista, existem a vila-corredor, a vila-através, a vila semiencerrada, além da vila-quadra, como mencionado acima. Uma vez fui visitar meu tio que se hospedava numa vila da rua Tonelero e tive uma experiência inusitada. Quase entrei na sala pela janela escancarada, que dava diretamente para a área de circulação da vila. Acho que este teria sido um mau exemplo de acesso híbrido.

O livro é fartamente ilustrado e colorido. As fotos das casas, das ruas e das vilas nos trazem, inevitavelmente, uma grande nostalgia. Podemos imaginar um Rio de Janeiro totalmente diferente do que é hoje, sem correria e sem sobressaltos. A Vila do Largo, em Laranjeiras, nos traz esperança. Segundo o texto, esta foi salva da especulação imobiliária. A Vila Tijuca, restaurada e com espaços de convivência para os moradores, é um exemplo de boa vizinhança. O Bairro Neusa, em Vila Isabel, é surpreendente.

Alfredo Luz, arquiteto e professor de Arquitetura, com este projeto que deu origem ao livro traz uma enorme contribuição para o entendimento do nosso espaço urbano e para a preservação destas verdadeiras relíquias da cidade  do Rio de Janeiro.
( Livro "Vilas cariocas", Alfredo Luz, editado em 2014)
(3 de janeiro de 2015)

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