Último dia do ano, abro um espaço para a nostalgia. De um passado que eu conheci só de ouvir falar. Primeiro a fazenda se chamava da Laje, e havia sido uma herança de Pio Souza Dias para o filho Umbelino. Ficava em terras de Alfenas, e não em Machado, Sul de Minas. Meu avô mudou o nome para Fazenda da Capoeirinha e foi lá que meus pais se casaram em 1925. E também foi lá que nasceu meu irmão mais velho, em 1926. Quando eu, um morador da cidade do Rio de Janeiro, dizia que queria ter uma fazenda, minha mãe tratava de tirar logo da minha cabeça. Era compreensível. A família dela morava em Machado, uma cidade do Sul de Minas, e decidiram largar o Largo, como se dizia, para irem todos morar na fazenda, por motivos políticos. Minha mãe detestava aquela vida meio reclusa. O irmão mais velho estudava medicina no Rio de Janeiro e só voltava nas férias. Ela, estudava no Colégio do Bom Conselho, em Taubaté, e também só voltava para casa em tempo de férias. Mas chegou uma época em que toda a família ficou meio reclusa na fazenda e ela achou detestável. Tudo muito longe, sem televisão e celular naquela época. Hoje meus netos abominariam passar uma semana sem o celular.
Quando a família decidiu se mudar para Belo Horizonte e foram todos morar na Rua da Bahia, ninguém mais pensava em voltar. Deus me livre. Só o meu tio Ivan, engenheiro e solteiro, ficou encarregado da fazenda, meio a contragosto, segundo consta na tradição familiar. Passou quatro anos tocando em frente, como na música de Almir Sater. E depois de outras experiências, a fazenda foi vendida, penso que para alívio geral. Eu tenho aqui em casa alguns objetos que adornavam a casa da fazenda. Considero que sou uma espécie de guardião, depois de minha prima Mary.
Agora a fazenda faz parte de uma imensa plantação de café. Em tempos recentes Laura e Leandro, caçadores de relíquias, foram até até lá em busca de um pacote de café em grão, com o sabor da velha Capoeirinha, e com alguma conversa conseguiram e me deram uma amostra.
Feliz 2026 a todos os leitores deste blog.
(Carlos G. Vieira, em 31 de dezembro de 2025)
Marcadores: Crônica
1 Comment:
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- Anônimo said...
31 de dezembro de 2025 às 12:16Parabéns! Suas histórias me encantam. Mas o coitado do meu pai não herdou nenhum pedaço da terrinha que ele cuidou!
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